Um vôo à italiana em Indianápolis
- Alex Neres
- 14 de fev. de 2019
- 3 min de leitura

As 500 Milhas de Indianapolis de 1996 foram uma edição histórica. Primeira corrida após a cisão entre CART e IRL, a prova foi marcada por um desfile de pilotos desconhecidos e carros velhos, já que a categoria novata permitia usar chassis de anos anteriores da Indy. Também foi uma corrida acidentada: nos treinos, a trágica morte do pole-position Scott Brayton, o acidente entre Scott Harrington e Lyn St. James (esta acabou fraturando a mão) e por aí vai. No final das contas, o futuro mito da IRL Buddy Lazier, com um modesto carro da Helmegarn venceu a prova com apenas 0s7 de vantagem para Davy Jones da Gilles.

Mas enquanto os dois americanos chegavam na bandeirada, um verdadeiro salseiro acontecia atrás deles. Três forasteiros, Roberto Guerrero, Alessandro Zampedri e Elizeo Salazar tentavam conseguir um bom resultado e chegaram à última curva bem juntos. Guerrero estava em 5º lugar e estava uma volta atrás do líder, após um atraso no último pit-stop. Porém seu rádio não estava funcionando corretamente e ele não sabia desta informação. Crente que estava na volta de Lazier e na 3a posição, o colombiano começou a virar voltas muito velozes na esperança de abrir vantagem de Zampedri e Salazar.

Na última curva, Guerrero que estava andando no limite desnecessariamente, perde o controle e desliza na entrada da reta. Sem tempo para desviar, Zampedri bate no carro do colombiano, decola em direção à grande e desintegra a frente após múltiplas batidas. Salazar passa por debaixo do carro do italiano enquanto este voa rodando no alambrado em uma cena assustadora. O carro de Zampedri cai na pista virado de cabeça pra baixo, desliza e vira novamente para cima até parar. Segundos depois, a poeira abaixa e o que temos são três carros destruídos na pista, com o de Alessandro Zampedri com a frente destruída.

Guerrero e Salazar estavam bem e nada sofreram. Porém Zampedri, apesar de estar se mexendo para as cameras, a situação era bem grave. O italiano estava com fraturas múltiplas em ambas as pernas. Ao ser levado ao hospital, havia ainda um sério risco de amputação do pé esquerdo, devido à problemas de circulação. Abaixo o vídeo do acidente e como ficaram os carros.
Foram sete cirurgias, incluindo reconstrução óssea, transplantes musculares e enxertos de pele, além de duas cirurgias plásticas. Foram mmeses de fisioterapia comandados pela Dra. Christina Minelli. A circulação no pé esquerdo ainda estava prejudicava e impedia do piloto andar normalmente. Os médicos estimaram que o tempo para recuperação que possibilitasse Zampedri caminhar seria entre oito a dez meses. Porém em sete meses, na manhã de natal de 1996, o italiano surpreendeu sua familia ao chegar sem muletas na cozinha de casa.

Em Maio de 1997, o inesperado aconteceu: Alessandro Zampedri estava de volta a Indianapolis para disputar mais uma 500 milhas. Parecia que estava recuperado. Bem humorado, ele falou a alguns jornalistas acerca de sua recuperação: "eu sentia dor todas as manhãs e durante quase todo o dia. Mas a dor é um estado de espírito. Se você se preocupar com ela, o tempo todo ela estará lá". E rindo, acrescentou que enquanto seus tornozelos dessem os movimentos suficientes, ele continuaria a correr. Naquela edição de 1997, porém Alessandro foi o primeiro a abandonar, com um vazamento de óleo na volta 31. Mas para quem correu o risco de nunca mais andar, de perder um pé, e de tantos meses de luta sem perder a vontade de fazer o que amava, aquelas 31 voltas valeram tanto quanto uma vitória.
Abraços!
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