[OPINIÃO] Will Power vs Michel Temer: o maior erro editorial da história do Grande Prêmio
- Alex Neres
- 24 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

Ser campeão, obter vitórias ou outros triunfos que acrescentam na vida de um esportista, é algo que sempre engrandece-o como pessoa e o marca na história. Porém estamos acostumados a sempre vangloriar o primeiro enquanto que o segundo, terceiro é tratado de certa forma, com menosprezo. Grande parte desta cultura aqui no Brasil foi potencializada com a famosa frase de Ayrton Senna que dizia que "o segundo é sempre o primeiro perdedor". E evidente isso que tantas outras vezes que Rubens Barrichello chegou em segundo e foi apenas isto, o segundo, mal sabendo o quanto que se batalha para chegar a um pódio.
Esta semana, o site Grande Prêmio, uma das maiores referencias jornalísticas do esporte a motor - e que isso não devemos deixar de destacar, publicou uma matéria falando a respeito de Will Power e fazendo um panorama de sua carreira. Tendo em vista diversos vices-campeonatos e citados poucos resultados expressivos, o título dizia: "Muitos vices, poucas glórias: Power precisa acordar para não virar Michel Temer da Indy".

O título e o texto em si, causaram bastante furor e críticas negativas na internet, nas redes sociais e um mau estar em alguns leitores, inclusive este que vos fala. Além da comparação ter sido feita com um político envolvido em tantas polêmicas e que hoje se encontra inclusive encarcerado, colocaram o piloto australiano dentro de um panorama de comparações muito alto. Will Power foi campeão da Indy em 2014 e ganhou as 500 Milhas de Indianápolis em 2018, que são sim resultados que não são conquistados por um piloto qualquer ou pagante. É preciso, além de uma boa estrutura - e isso Power tem, uma experiência sólida.
Desde quando estreou na IndyCar após a unificação, Power sempre se destacou por sua atuação nos circuitos mistos. Porém sofria nos ovais e nem sempre conseguia bons resultados, fazendo-o inclusive perder o título de 2012 que estava praticamente ganho. Com o tempo, o australiano melhorou e se tornou também um excelente piloto em ovais. Para a Indy, ele já pode sim ser considerado um piloto completo, que atua bem em qualquer traçado.

A grande questão talvez tenha sido que, Power viveu uma Indy de quatro títulos de Dario Franchitti e cinco de Scott Dixon. Aí ele está lá, com inúmeros vices e apenas um campeonato. E daí? O cara foi campeão, o cara ganhou as duas 500 Milhas do Campeonato: Pocono e Indianapolis! Querer menospreza-lo só por causa da sua quantidade de títulos em detrimento à outros grandes nomes da Indy é algo mal concebido. Coitados seriam Danny Sullivan, Emerson, Jacques Villeneuve, Montoya. Conquistaram apenas um título e por isso seriam considerados Michel Temer.
Até porque é preciso levantar outra questão: Michel Temer foi vice presidente da república porque quis. Se inseriu em uma chapa que a condição que ele teria seria essa. Will Power não começou as temporadas no qual foi vice com o pensamento de que já iria chegar em segundo lugar automaticamente no final do ano. Repito, respeito muito o jornalismo do Grande Prêmio, mas a matéria foi infeliz. Will Power já acordou, está mais vivo do que nunca, forte candidato ao título sempre, enquanto estiver com a estrutura que tem, e não é preciso fazer comparações polêmicas com alguém que nem esportista é, para dizer que ele ainda tem que evoluir.
Sabe quem tem que evoluir? O jornalismo brasileiro na parte de automobilismo. O que nós temos hoje em massa é um noticiário desmembrado em mitose de Press-release, onde um grande portal divulga uma noticia sobre uma corrida e o publico só fica sabendo a noticia picada e sem detalhes. O Brasil está acostumado a saber sobre a Indy, a NASCAR, dentre outras categorias apenas em duas situações: quando tem brasileiro ganhando ou quando morre alguém. E isso é muito grave. O jornalismo brasileiro precisa acordar se não quiser virar um Leão da MGM: aparece, ruge e vai embora.
That's All Folks!
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