(OPINIÃO) Porque Senna não merecia ser campeão em 1989
- Alex Neres
- 3 de fev. de 2019
- 5 min de leitura

Essa matéria talvez seja a mais polêmica que eu já escreva aqui o que pode simplesmente colocar a minha credibilidade ou a vontade do leitor em xeque. Assuntos que envolvem Ayrton Senna sempre são um problema para se discutir, principalmente quando se colocam estatísticas na mesa para quem nunca parou para pensar nestes detalhes. E hoje, vamos analisar um dos pontos mais marcantes de sua carreira: o mundial de 1989, onde, como todos já sabem, acabou com Alain Prost sendo campeão, após o controvertido acidente no GP do Japão.
Mas além da corrida nipônica, há muitos outros pontos que explicam o título do francês naquele ano. E sim, Alain Prost foi campeão nos méritos sim. Independente de Jean-Marie Balestre, Alain Prost guiou de forma precisa, mesmo com a equipe de certa forma de ovo virado com ele, após o GP da França, quando anunciou que em 1990, ele correria pela Ferrari. O acidente entre Senna e Prost no Japão foi só um estopim que salvaria uma temporada ruim de Senna.
Vamos aos fatos: 16 corridas, sendo que Prost chegou a zona de pontos em 13: Venceu nos Estados Unidos, França, Inglaterra e na Italia. Foi 2º no Brasil, em San Marino, em Mônaco, Alemanha, Bélgica e Portugal. Foi 3º na Espanha, 4º na Hungria e 5º no México. Já Senna, foi aos pontos apenas sete vezes: venceu San Marino, Mônaco, México, Alemanha, Bélgica e Espanha. Porém a única pontuação obtida além dessa, foi o 2º na Hungria. De resto, Senna não chegou aos pontos nas outras nove provas do mundial, o que totaliza 56,2% de deficit em 1989.

A McLaren de 1989 não tinha o carro tão consistente como o de 1989 e Senna pagou caro por isso. Três quebras de câmbio (França, Inglaterra e Canadá), duas quebras de motor (Estados Unidos, Italia) fizeram com que cinco possíveis vitórias fossem para o espaço. Porém o brasileiro também cometeu dois erros que custaram também bons pontos: na largada do GP do Brasil, na ansiedade de passar no meio de Patrese e Berger, acabou por ficar sem o bico e sair da disputa. E em Portugal, quando não deixou o já desclassificado Nigel Mansell passar a frente e bateu no final da reta com o leão.

Nestas corridas, quase sempre Prost se aproveitou: só vitórias foram quatro. O número de vitórias do francês era bem menor, mas a regularidade surpreendia. Tanto que no final do ano, a sua pontuação não foi plena: o regulamento até então previa que apenas os 11 melhores resultados da temporada seriam válidos. Prost tinha 13 pontuações e por isso teve que descartar 2 pontos obtidos no México e 3 da prova húngara. Já Senna tinha apenas sete pontuações, não sendo enquadrado em descarte.
Chegamos à polêmica prova do Japão. A situação do campeonato era: Prost tinha 76 pontos válidos e Senna tinha 60. Faltavam duas provas para o campeonato acabar e haviam 18 pontos em disputa. Para Prost, bastava um segundo lugar, independente da colocação de Ayrton. Explico: Caso Senna vencesse, iria para 69 pontos e Prost iria com o 2º para 82. Porém teria que descartar o então pior resultado que ainda era válido (no caso o 3º lugar obtido na Espanha. Com isso, marcaria apenas 3 pontos e iria a 79, sendo que o máximo que Senna poderia alcançar seria 78 (a vitória em 1989 valia 9 pontos). Restava então para Senna vencer e torcer por, no mínimo, um 3º de Prost, o que faria com que o francês não marcasse pontos válidos, ficando a decisão para a Australia Senna 69 vs 76 de Prost.

Porém aconteceu todo aquele salseiro que vocês conhecem na corrida, bla-bla-bla, Balestre, tapetão, #FoiGolpe... Mas vamos imaginar duas situações abaixo, caso Senna não tivesse sido desclassificado:
Senna não bate em Prost, não ultrapassa, chega em 2º. Campeonato liquidado com requintes de crueldade: Senna fica com 66 e Prost vai a 85 (81 válidos, descartando o 3º da Espanha).
Senna ultrapassa Prost sem batida e vence a prova com o francês em segundo. Já expliquei no parágrafo: Prost campeão de novo
A situação que beneficiaria Ayrton Senna: acontece o acidente, porém não ocorre a desclassificação, também explicado no parágrafo anterior.
Porém temos que lembrar que o campeonato não acabou no Japão. Ainda teríamos a prova da Australia, nas ruas de Adelaide que como sabemos, foi debaixo de um dilúvio. E aí a gente nunca pode saber o que poderia acontecer. Naquela prova, com o campeonato já decidido, Senna estava em 1º e acabou abalroando Martin Brundle quebrando a suspensão dianteira e abandonando a corrida. Prost sequer quis correr: devido à chuva forte, encostou nos boxes após a segunda largada, afinal não tinha nada a perder e já estava de saída da McLaren mesmo.
Agora vamos novamente simular situações:
Senna era muito melhor que Prost na chuva, o que poderia fazer com que o brasileiro chegasse a frente do francês. Caso ainda tivesse chance de título, considerando a hipótese #3 do tópico anterior e vencesse a prova, Ayrton Senna iria a 78 pontos e levaria o título independente do resultado de Prost, pois mesmo se fosse segundo, Prost marcaria apenas 2 pontos válidos (devido novamente a ter que descartar os 4 pontos do GP da Espanha) e empatando com Senna, perderia o título por ter menos vitórias (4 contra 8, já considerando também a possível vitória de Senna no Japão).
Porém Prost, apesar de ser um piloto metódico, não iria jogar um título na mesa assim tão fácil. Poderia haver uma disputa na pista sim, o que poderia resultado em um toque, batida, duplo abandono. Talvez não fosse com Martin Brundle o encontro com Senna. Neste caso, tudo fica como está: Prost campeão
O próprio Brundle mesmo; será que em uma disputa de campeonato, teria acontecido a batida? Poderia ser Prost que batesse nele?
Nunca saberemos. O fato é que Senna abandonou no Japão, na Australia e o título foi para Alain Prost. Independente de Jean-Marie Balestre, o fato é que Prost mereceu o título daquele ano pela consistência. Buscava sim a vitória, mas quando viu que não dava, preferia não correr riscos desnecessários. Foi assim em toda a sua carreira e na temporada de 1989, isso foi a seu favor. Comparando com o ano anterior, 89 foi um ano difícil para a McLaren. O carro não era mais tão dominante, a Ferrari debutava com o câmbio eletrônico com acionamento por borboletas, a Williams voltava a caminhar para ser novamente uma força na F1, o motor Honda era instável.

As brigas por causa da personalidade de ambos os pilotos de Ron Dennis também deixou cicatrizes. Após o episódio em San Marino, quando Senna desobedeceu às ordens de não passar Prost após a largada, criou-se um racha dentro do time, que culminou inclusive na saída do francês para a Ferrari em 1990. Senna também costumava copiar alguns acertos do carro de Prost em determinadas vezes. Por fim, a batida no Japão finalmente consolidou um clima ruim dentro do time. Coisas impensáveis no ano anterior, quando a McLaren era um time feliz, ganhador de 15 das 16 provas e com uma estrutura incrível.
Alain Prost aproveitou todos estes fatos: era um excelente acertador de carros, fez o dele e esperou apenas o final de ano chegar. A batida com Senna em Suzuka foi sim uma atitude péssima de sua parte, visto que você pode ver de 355 ângulos diferentes de câmera, não há dúvidas de que foi um acidente provocado com o objetivo do duplo abandono. Mas mesmo com tantas possibilidades citadas, ele levaria sim o título daquele ano. Ayrton tinha uma frase muito famosa de que "o segundo é sempre o primeiro entre os perdedores". A sua obsessão por resultados vitoriosos são uma marca que conserva a sua imagem como um ídolo mundial do esporte. Porém em 1989, essa característica talvez tenha lhe custado o título. Faltou sorte, mas também medir riscos.
Até a próxima!
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