[OFF] Velhas Zelândias, novos ódios
- Alex Neres
- 15 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

Prometi a mim mesmo que não iria desviar o foco do assunto corridas neste blog. Mas infelizmente o mundo viveu diversos cataclismos nesta semana que nos levantaram muitos questionamento sobre como as pessoas estão menos humanas. Precisamos refletir.
No meio da semana, um garoto e um homem adulto invadem uma escola em Suzano, SP e saem atirando descontroladamente contra inocentes pessoas. Aí quando estamos nos preparando para dormir na noite de quinta, uma noticia vindo de uma cidade de nome bonito e paz dominante, encravada no meio da Nova Zelândia chamada Christchurch: um homem pega a sua GoPro, inicia uma live e sai atirando em diversas pessoas dentro de uma mesquita e depois nas ruas, matando 49.
Dois fatos em cantos distintos do mundo, com causas diferentes, mas que nos remetem sempre a uma termo: "ódio". As pessoas alimentam dentro de si um sentimento de potencia e poder de força que tem como o único objetivo passar por cima daquilo que se imagina que seja nocivo, contrário ou talvez até ameaçador. Mas se engana de quem pensa que este sentimento de possessão seja recente. O homem é um guerreiro sem pena desde muito tempo, pois desde os primórdios de existência, atravessava com lanças quem precisasse para ter um território, controlar nações, impor o que se pensa.
Com o tempo, as guerras por poder continuaram. Muita gente questiona o terrorismo que o Estado Islâmico mostrou por anos com o extremismo contra diversos povos. O islamismo acaba que por ser massacrado como uma religião que prega o ódio, mas não se para para analisar que mil anos atrás, os Cristãos fizeram a mesma coisa com o islã nas Cruzadas. Não estou aqui para criar um embate religioso por guerra e paz, mas sim mostrar que falta empatia no julgamento sobre o que é realmente guerra e paz.
A grande diferença que o mundo tem hoje para as revoltas de antigamente é que o acesso à informação está muito mais fácil e interativo. O advento da internet tornou as pessoas seres que conseguem saber de tudo muito mais fácil, seja para o bem, seja para o mal. Eu não preciso gastar neurônios para promover um espetáculo de sangue, se o Google pode me ajudar com isto em questão de segundos. O garoto de Suzano comprou todo o seu material de matança na internet; o neozelandês que abriu fogo na mesquita fez uma live mostrando toda a tragédia. Tudo está à mão e online.
Mas para muitos, tudo não passa de um espetáculo. Sim, porque enquanto milhares morrem todos os anos, há pessoas que não perdem tempo mantendo em seus smartphones o vídeo do derramamento de sangue sem tarjas e pausas. É como se sentir em um Coliseu contemporâneo, onde assistem-se gladiadores modernos enquanto que na frente da tela, pessoas aguardam um pseudo-imperador sem louros nas orelhas abaixar ou levantar o polegar. Abaixar ele nunca vai, porque não existe. O homem gosta do trágico. Guerra e Paz, talvez hoje só existe no contexto literário de Tolstoi.
O próprio León Tolstói já dizia no livro citado acima: “Os pretensos grandes homens são somente as etiquetas da História: dão os nomes aos acontecimentos, sem sequer terem, como as etiquetas, a mínima ligação com o próprio facto.” Muitas vezes, a superioridade que o ser humano quer demonstrar extrapola até mesmo o que ele deseja conquistar. A ambição por derrubar o oponente, como em um octógono é mais forte que as próprias razões para isto. Ninguém ganha nada matando ninguém, apenas a sociedade que perde. Perdem sonhos que são destruídos e cria-se um sentimento de vingança, atrelando mais um elo à uma infinita corrente de violência gratuita.
Precisamos parar para pensar que um dia, todos nós iremos morrer. Mas junto com a morte, não levaremos em nosso descanso um poder abstrato de ganância, poder e dominação. Não levaremos uma religião que venceu a outra dentro de um game. Não levaremos juntos o sentimento de culpa daquela pessoa que não deu ouvidos ou até mesmo um abraço à quem estava prestes a fazer um atentado e que talvez só precisasse escutar que o mundo é muito mais bonito quando há paz. Hoje vivemos em um planeta triste, que o ódio predomina, que o gesto de arma na mão é mais vistoso do que um aperto de mão, que os territórios se transformaram em grandes jogos de campo minado e que as pessoas valorizam mais um vídeo de sangue derramado do que um vídeo de pessoas clamando por paz.
Pense em um mundo que você quer para você. E faça sua parte! Tudo começa por paz! E se começa por ela, a paz nunca cessa. Ao começar pelo ódio, tudo é ceifado!
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