O circuito oval que (não) era oval
- Alex Neres
- 12 de fev. de 2019
- 3 min de leitura

Quando a Formula Indy e a NASCAR se tornaram eventos televisivos de caracter mundial nos anos 90, os circuitos ovais passaram a ser uma realidade para quem assiste corrida. Quem gosta, ama. Quem não gosta, odeia. Não existe meio termo. Mas existem diversos conceitos para este tipos de pista. Uns dizem que oval é uma pista literalmente em forma de ovo e inclinada. Outras dizem que oval é qualquer circuito que as curvas são sempre para o mesmo lado. Talvez seja...
... ou talvez não. Você conseguiria imaginar um oval com curvas inclinadas para os dois lados? Sim, um speedway com curvas para direita e esquerda! Pois sim, já existiu uma pista assim, mesmo que por pouco tempo. Hoje vamos falar do Trenton International Speedway.

Localizado em New Jersey, Trenton é uma das pistas mais antigas do automobilismo americano. Foi fundada em 24 de Setembro de 1900, porém só passou a receber corridas a partir de 1907, dois anos antes da primeira temporada da AAA (que seria a base da IndyCar). Nessa época, como a maioria das pistas dos Estados Unidos, o circuito não era pavimentado, sendo um oval de terra. A pista era um singelo circuito oval de meia milha, como hoje é Bristol e Martinsville. A partir de 1912, as corridas em Trenton passaram a ser regulares, permanecendo assim até 1941 (por motivos históricos óbvios).

Em 1946, quando o automobilismo retomava no mundo após o fim da II Guerra Mundial, o oval foi reformulado se transformando em um circuito de 1 milha, porém ainda continuava sendo de terra. Porém essas reformas mantiveram algumas caraterísticas da pista antiga, fazendo com que a arquibancada da reta principal ficasse muito longe da pista, e com uma visão um tanto estranha para o espectador. Em 1957, seguindo a tendencia da época, Trenton foi finalmente pavimentado, mantendo o traçado. Isso fez com que a Indy voltasse ao traçado, que não visitava desde 1949, se tornando uma corrida regular no calendário. A.J. Foyt reinou absoluto, conseguindo 12 vitórias.. Em 58, foi a vez da NASCAR visitar a pista pela primeira vez.

Em 1968, aconteceu a maior reforma e a que mais marcou a pista. O oval ficou 50% mais extenso, se tornando um circuito de 1.5 milha e ganhando uma característica única nesta configuração de pista: uma curva para a direita, apelidada de "dog-leg", com 4º de inclinação entre as curvas 2 e 3 (ou seria 2 e 4?). As curvas 1 e 2 tinham 10º de inclinação e após a "dog-leg", as curvas finais tinham 15º. A explicação para este traçado esquisito é bem inusitada: os dirigentes da NASCAR queriam ampliar a pista, todavia esta mudança implicaria em ampliar o terreno por uma propriedade rural particular. Só que a senhora que era dona do terreno se recusou a vender. O jeito foi criar uma curva mais curva após a reta e depois fazer o desvio no meio da reta oposta para a direita.

O grande problema desta configuração era a dificuldade de acerto. Os pneus sofriam um desgaste terrível e a suspensão idem. Não se podia usar pneus de circuito misto, pois os mesmos não suportariam a inclinação das curvas inclinadas. E para piorar a situação, as corridas não geravam lucros suficientes e todos os anos o prejuízo só aumentava. Em 1979 ouve a criação da CART, em detrimento à USAC e a pista migrou para a nova categoria. Porém com tanta perda de dinheiro e o interesse da população local da área em outros fins, o Trenton Speedway foi retirado do calendário da CART para 1980.


Melancolicamente, a pista foi conhecendo tão breve o seu fim. No mesmo ano, o terreno foi vendido, sendo ali realizada pela última vez a Feira Mundial da New Jersey. Pouco tempo depois, a pista foi demolida, dando lugar anos depois a um conjunto habitacional e em uma unidade da transportadora americana UPS. Quem olha, mal pode imaginar que ali um dia existiu um dos circuitos mais inusitados e históricos do automobilismo americano. Abaixo, trechos da última corrida realizada na pista, em 1979.
Até a próxima.
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