IndyCar: a volta do divórcio que deu certo
- Alex Neres
- 25 de jan. de 2019
- 4 min de leitura

Daqui a pouco menos de dois meses, começa a temporada 2019 da Formula Indy. E sem exagero, estamos diante de uma categoria que não parará de crescer tão cedo. Não falo somente em audiência, mas também em disputa e alcance da categoria no panorama do automobilismo mundial.
Depois de todos os fatos que aconteceram na história da IndyCar, dificilmente imaginaríamos que a categoria estaria voltando aos tempos áureos. A cisão de 1995, promovida por Tony George tinha como objetivo trazer uma essência da Indy que, fora dos Estados Unidos, era pouco atrativa: uma categoria de monopostos nominalmente americana, com corridas só em ovais, com apenas pilotos americanos. Em 1995, a Indy era uma categoria a nível mundial, com uma pluralidade de países participando e disputando a preferencia do público com a Formula 1, principalmente após o título do Nigel Mansell em 1993, pela Newman-Haas, um ano após ter sido campeão do mundo de F1 pela Williams.
Parecia uma ideia de maluco, mas George era dono do Indianapolis Motor Speedway e levou para a sua categoria a corrida mais emblemática do planeta. Era impensável uma categoria nova no automobilismo cheia de forasteiros, mas com a maior corrida da terra. A cisão entre a CART e a IRL parecia fadada ao fracasso.

Mas não é que deu certo? A CART foi perdendo popularidade nos EUA, corridas megalomaníacas como a Hawaiian SuperPrix de 1999 e a Firestone Firehawk 600 de 2001 (que depois vou falar sobre cada uma delas a parte) foram canceladas dando um prejuízo digno de hecatombe. Os times grandes passaram a migrar para a IRL e anos depois, os papeis estavam invertidos. A IndyCar estava consolidada e a CART (agora ChampCar) estava praticamemente falida, sendo então engolida pela categoria dominante em 2008.

Então em 2008, George desfez o divorcio. Trouxe apenas uma Indy para o panorama mundial e viu que no fim das contas, a separação foi um grande erro. Mas o estrago estava feito. O que tínhamos eram os velhos Dallara da IRL correndo em algumas pistas da CART e não parecia tanto uma junção. E por isso, muita gente na época duvidou que isso fosse dar certo. Era mais do mesmo, por assim dizer. E apesar de, em 2012 um novo chassi, o DW12 modificar o layout dos carros, a morte de Dan Wheldon naquela corrida tragédia de Las Vegas em 2011 só queimou ainda mais o filme da Indy.
O próprio DW12 era um carro feio, cheio de apêndices aerodinâmicos, e não agradou. Era preciso mudar e em 2018 foi feito, com a adoção do chassi modificado, bem mais minimalista, lembrando um carro da CART. O monoposto ficou lindo e deu a todos uma sensação de nostalgia nunca vista. Porém na prática, o carro não se mostrou tão empolgante assim, pois gerava um efeito aerodinâmico que dificultava muito as ultrapassagens, principalmente nos ovais curto, principalmente no ISM Raceway (antigo Phoenix Motor Raceway), pista essa que nunca teve uma corrida tão enfadonha desde sua existência como foi a de 2018. Além disso, a segurança, algo que sempre foi algo questionável na Indy foi novamente posta em evidencia com o terrível acidente sofrido por Robert Wickens em Pocono.

Ta, mas o título da matéria diz que a Indy moderna foi um retorno de um divorcio que deu certo e foram enormes parágrafos bombardeando a categoria após a união. Qual o sentido? Está claro que a Indy é uma categoria que está procurando não ficar parada no tempo. Após a consolidação da IRL como a categoria majoritária de monopostos nos EUA, a CART/CCWS ficou anos estagnada com mesmo chassi e mesmo motor. Disputas eram poucas e pilotos como Paul Tracy e Sebastién Bourdais eram caolho em terra de cego. Do outro lado, a Indy passou dez anos com o mesmo chassi e mesmo quando passou a correr nos mistos, muitas corridas não tinham a emoção dos anos 90.
Hoje, tudo mudou: novas pistas no campeonato, pilotos da Europa voltaram a considerar o automobilismo americano como uma alternativa ao restrito mundo da F1, os carros estão bonitos e voltamos a ver carros fazendo uma volta em Indianápolis com velocidade acima de 230MPH (apesar de ainda não termos quebrado o recorde de Arte Luyendik de 237MPH de 1996). Este ano, o Circuito das Américas em Austin segue o mesmo caminho de tantas categorias e entra no calendário da Indy. O caráter de global voltou, e podemos dizer que é realmente um Campeonato Mundial de Formula Indy. E claro, temos esperanças brazucas lá, algo que não temos na F1.

Por fim, a Indy ainda precisa melhorar no quesito de ser uma categoria ainda pouco conhecida. Fora dos EUA, as transmissões de TV ainda são precárias, os comentaristas nem sempre tem informações corretas e o público ainda não conhece tão bem assim. Mas a internet está aí pra isso. O site da IndyCar foi totalmente reformado, estão fazendo um árduo trabalho para incluir não só os resultados da CART, mas também da USAC, AAA, de toda a história da Indy desde 1909. Isso é incrível, pensar que podemos teriam história sendo trazida para todas. O público que gosta de corridas gosta e agradece.
Abraço a todos
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