A pista de rua mais charmosa do mundo (Parte 2)
- Alex Neres
- 6 de fev. de 2019
- 4 min de leitura

Semana passada falamos da história do GP dos EUA Oeste, que desde 1976 se realizara em Long Beach. A linda pista era um sucesso e a cada ano atraia mais fãs apesar das mudanças de traçado instituídas no início dos anos 80 que de certa forma deixaram o traçado mais travado e menos seletivo. Mas mesmo com tanto sucesso, como poderíamos imaginar que a icônica pista americana deixaria tão subitamente o calendário da Formula 1? O que aconteceu e o que foi feito da pista, é o que você vai saber hoje na segunda e última parte desta matéria. Apertem os cintos, porque tem carros dando volta!

Em 1983, apesar de ter sido uma corrida disputada e o público continuar aprovando, o promotor da corrida Chris Pook achou que a realização da prova naquele ano tinha saído muito cara e não tinha rendido lucros em mesmas proporções. Então Pook começou a se aproximar dos cartolas da CART e anunciou oficialmente que se não fosse injetado mais dinheiro, seria arriscado e pouco rentável ficar com a F1 por mais tempo. Lógico que a FOCA não concordou com isso e acabou que ficou sem o circuito para 1984. Além disso, Pook acreditava que, além dos custos da CART serem menos, o público seria maior e mais ligado, devido ao fato da maioria dos pilotos desta categoria serem americanos.
Para a estreia na CART, o circuito passou por algumas modificações: a curva após a Seaside Way ficou mais aberta, a curva Le Gazomet deixou de existir, substituto por um hairpin menos fechado, a grande reta ficou menor e tiraram a chicane implantada em 1982. Por fim, a saída dos boxes, já era logo após a curva Bridgestone e não no fim da grande reta. Foi uma mudança até mais adequada, pois os monopostos da Indy eram carros mais truculentos e com subsesterço mais difícil que os europeus.
Durante os quatro primeiros anos, a familia Andretti dominou a pista: três vitórias de Mario (1984, 1985 e 1987) e uma de Michael (1986). E para ficar mais monótono ainda, nos quatro anos seguintes, quatro vitórias de Al Unser, Jr. (que também ganharia lá em 1994 e 1995, recordista absoluto de triunfos na pista). O Brasil inclusive chegou perto de um bom resultado em 1986 com Roberto Moreno. Porém o brasileiro ficou sem combustível na última curva. Como é um hairpin em primeira marcha, nem embalo teve pra chegar.

Em 1992, a pista passa pela modificação que a deixou mais minimalista. A quatro curvas em 90º que antecediam a Seaside Way foram extintas o que deixou a reta oposta bem maior. Mas pelas próprias características dos carros da Indy, a média de velocidade não era muito diferente dos F1 que correram lá dez anos antes.
Com a cisão entre CART e IRL em 1996, como a nova categoria era somente com ovais, Long Beach ficou para a primeira categoria e a corrida acontecia todos os anos, sendo sempre o marco do início da temporada. A prova marcou a primeira vitória de Paul Tracy (em 1993) e de Juan Pablo Montoya (1999). Mesmo com a crise da CART/ChampCar, a prova seguia firme e forte. Em 2005, 2006 e 2007, Sebastien Bourdais que era caolho em terra de cego, não deu chance a ninguém e faturou. E nem sempre de primeira vitória vive Long Beach. Foi aqui que Michael Andretti conquistou sua derradeira vitória na carreira, em 2002.


Em 2008, a prova foi histórica. Com a fusão das categorias pela falência da ChampCar, Long Beach marcou o canto do cisne da categoria falida. A corrida valeu pontos para o campeonato da Indy daquele ano, porém apenas pilotos da ChampCar participaram correndo (até porque a prova da IndyCar em Motegi fora realizada no mesmo dia) com carros de chassi Panoz, além da largada estática enquanto que os pilotos da Indy correram com seus velhos Dallara e com largada em movimento. A prova foi vencida pelo australiano Will Power (também conquistando aqui a primeira vitória) que como muitos migraram para a unificada IndyCar ainda aquele ano.
Nessa época a pista já era bem maior, pois pegaram algumas ruas a frente da grande reta e a Pine Avenue, que na época conduzia da primeira curva até a Ocean Boulevard nos tempos de F1 voltava, mas sem variantes, apenas uma reta. O traçado segue inalterado e hoje, além de sediar as categorias do Road to Indy, também sediou a F-E em 2015 e 2016, em um traçado menor, no qual se saía direto da grande reta para a Pine Avenue. Nessas, só deu Brasil (Piquet Jr. ganhou a primeira edição e Lucas Di Grassi a segunda edição).
E como falamos de Road to Indy, a Indy Lights e a Atlantic também correram na pista desde os primórdios, que deram triunfos a grandes nomes no início de suas carreiras: Geoff Brabham, Jimmy Vasser, Hiro Matsushita, Alex Tagliani, Paul Tracy, Greg Moore e Scott Dixon são alguns exemplos.
Por fim, são 43 anos que a pista segue sua vida. A Formula 1 bem que cogitou voltar, mas a IndyCar não daria a sua corrida de rua mais famosa assim. Alias, de jeito nenhum. Ficou mais do que claro, que Long Beach é da categoria americana, é uma corrida clássica que, se ficasse fora do calendário, faria falta demais. É como tirar Mônaco da F1. Mas enquanto que a corrida monegasca tem um clima muito mais nobre, Long Beach tem um clima mais "gente", mais corrida, mais raiz. Uma corrida realizada próximo do Pacífico, em um ambiente ensolarado, sempre lotado, mesclando retas grandes, curvas fechadas é garantia de sucesso. A F1 tentou depois Dallas, insistiu com as ruas apertadas de Detroit, a trapizonga em forma de circuito em Phoenix, o misto ruim de acerto de Indiana e hoje parece ter acertado (enfim) em Austin. Mas não, o charme que ela perdeu ao renunciar Long Beach e hoje a Indy se orgulha, isso jamais os europeus terão de novo.
Segue o link com todas as mudanças de traçado da pista:
http://www.racingcircuits.info/north-america/usa/long-beach.html
Espero que tenham gostado! That's All Folks!
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