A pista de rua mais charmosa do mundo (Parte 1)
- Alex Neres
- 29 de jan. de 2019
- 4 min de leitura

Que Mônaco tem o seu charme, isso ninguém nega. As ruas do principado marcaram todo o século passado nas corridas e até hoje é uma das corrida mais emblemáticas do mundo. Os cassinos, o tunel, a largada com batidas na St. Devote, os carros virando em primeira marcha na Loews e na La Rascasse, a lembrança de corridas confusas, como em 1982, quando quase ninguém chegou, 1996 quando apenas quatro carros chegaram ou em 2003 na F-3000 quando Bjorn Wirdheim perdeu a corrida na linha de chegada por uma bobagem (outro dia falaremos desta corrida).
Mas falar de Montecarlo é muito clichê. E do outro lado do Atlântico, temos uma pista de rua que também tem o seu charme e de tanta notoriedade foi de uma categoria para outra e até hoje deixa saudade no circo europeu. Estou falando de Long Beach. Os Estados Unidos realizaram corridas em tudo quanto foi pista e hoje está bem firmada no Circuito das Américas. Mas Austin, Indianapolis, Phoenix (argh), Detroit, Dallas, Caesars Palace, Watkins Glen, Riverside e Sebring nenhuma foi tão notória como a pista citadina na beira do Pacífico.
A ideia da Formula 1 em Long Beach veio ainda no início da década de 70. Na época, o GP dos Estados Unidos ocorria em Watkins Glen, New York, portanto na costa leste e havia um grande interesse de se fazer uma segunda corrida em território norte-americano do outro lado do país. Este interesse se intensificou após a realização do GP de Questor, no Ontario Motor Speedway, na California. Apesar da corrida ser um sucesso de público e dos carros de F1 terem dado uma surra nos F-5000 (essa história eu contarei depois), tecnicamente a pista não era adequada para os carros europeus, principalmente por causa da inclinação do trecho oval que fora usado.

O circuito de Long Beach foi desenhado próximo ao centro de Los Angeles. Em 1975, a mesma F-5000 correu lá e no ano seguinte, a F1 fez’s uma estreia na pista. Assim, os Estados Unidos se tornou (desconsiderando a Indy 500 de 1959 e 1960) o segundo país a sediar duas corridas na mesma temporada (o primeiro foi a Italia em 1957, quando teve corrida em Monza e Pescara). A pista era tida como dificil pelos pilotos e exigia quase o limite do equipamento. Os americanos queriam fazer daquela pista uma segunda pista de Mônaco, colocando-a no começo do ano, com clima agradavel, além de atrair o enorme público.
O desenho era relativamente simples. A largada ocorria em uma reta na Ocean Boulevard, seguida de uma série de ésses e depois um hairpin bem fechado, o Le Gazomet (seria alguma provocação com a extinta curva monegasca?). Em seguida uma enorme reta, cortada por uma curva a direita no meio, feita de pé embaixo. A velocidade era altíssima, mas ao mesmo tempo era preciso perícia, pois havia um outro cotovelo a seguir, feito em primeira marcha. Depois algumas curvas em 90 graus em descida, fazendo a curva parecer um tobogã, entrando de novo na reta de partida. Fácil? Para o equipamento, era a pista mais desgastante de todas.

A primeira corrida foi vencida por Clay Regazzoni, seguido de Niki Lauda e Patrick Depailler. Emerson Fittipaldi foi sexto, marcando o primeiro ponto da Copersucar. Os pilotos que chegaram ao final travaram um duro duelo para levar o carro inteiro, mas em questão de sucesso, isso foi unanimidade entre o público. No ano seguinte, Lauda deu o ar da graça e venceu, seguido de Mario Andretti (que havia assinado com a Lotus em 1976 um dia depois da prova inaugural em Long Beach) e Jody Scheckter, que corria na meteórica Wolf.

Na corrida de 1978, uma mudança no traçado: a largada foi para a grande reta-curva, porém os boxes e a chegada continuaram na Ocean Boulevard, fazendo com que a corrida tivesse 79,5 voltas (risos). A corrida foi vencida pela terceira vez seguida pela Ferrari, com o argentino Carlos Reutemann seguido de Alan Jones, com a Williams, marcando o primeiro pódio da história do time. E a Ferrari emplacou nova vitória em 1979, com Gilles Villeneuve, que fez pole, ganhou e fez a melhor volta.

A hegemonia da Ferrari em Long Beach só foi quebrada em 1980, em uma corrida histórica por bons e maus momentos. Nelson Piquet, com a Brabham, emplacou sua primeira vitória na F1, enquanto que Emerson Fittipaldi marcava seu último pódio ao chegar em terceiro. Mas logo na largada, aconteceu algo que marcou para sempre este GP e a vida de um piloto. Ricardo Zunino, companheiro de Piquet teve um problema ainda na partida e abandonou, parando seu carro próximo ao hairpin Queen (no final da grande reta). Na volta 50, o Ensign de Clay Regazzoni teve uma falha nos freios a 280 km/h e acabou atingindo em cheio o carro de Zunino que estava estacionado na área de escape. O piloto italiano acabou ficando paraplégico após o acidente.
Uma terceira equipe emplacaria vitória em Long Beach. Desta vez, o time foi a Williams, que ganhou com Alan Jones em 1981. Essa corrida teve a pole-position de Riccardo Patrese - primeira vez que o italiano largava na frete e também a única pole-position da Arrows na F1. Em 1982, o traçado foi totalmente mudado, tendo sido extindo o hairpin Queen, ganhando novas curvas, inclusive encurtando o retão com uma variante. De longe, o pior traçado da história da pista na F1. A corrida ocorreu no auge da briga entre FISA e FOCA e a Ferrari colocou uma asa traseira dupla no carro de Gilles Villeneuve. O canadense fora desclassificado o que só deixou o clima mais arisco, o que culminou com apenas 14 carros largando na corrida seguinte em Ímola. A prova em Long Beach foi ganhada por Niki Lauda, a primeira vitória do austríaco em quatro anos.

Em 1983, mais mudanças: largada e chegada voltaram a ser no mesmo lugar, só que agora no retão. A Ocean Boulevard saiu do traçado dando lugar a rua de baixo, a Seaside Way. As curvas de 1982 foram mantidas. Não ficou bom, mas pista a pista ainda agradava. E claro, não podia faltar fato histórico: John Watson ganhou pela McLaren após ter largado em 22o lugar. Lauda foi segundo, após sair em 23o. A corrida também marcou a rodada espetacular de Keke Rosberg.
A pista continuava sendo um sucesso, mas infelizmente 1983 foi a última vez que a F1 pisou lá. O motivo? Bom, isso você vai saber na segunda parte desta matéria, na terça que vem. Fiquem por aí, que ainda tem carros dando volta!
Abraço a todos!
Comments